Café, açúcar, carne, calçados: como os setores atingidos reagiram ao tarifaço de Trump
Com risco de colapso nas exportações, segmentos tentam entrar na lista de exceções dos EUA e pedem ajuda ao governo Lula para que as empresas não quebrem
O tarifaço sobre produtos brasileiros anunciado nesta quarta-feira, 30, pelo governo de Donald Trump trouxe uma enorme sensação de alívio para várias empresas, poupadas da taxação extra de 40% (que se somaria à de 10% já em vigor).
Mas, para quem não entrou na lista de exceções – o que inclui segmentos importantes, como carne e café -, a situação é de pânico. Para muitos setores, as exportações para os EUA ficarão completamente inviabilizadas a partir do dia 6 de agosto, quando as taxas devem efetivamente entrar em vigor.
A saída, pelo menos no curto prazo, segundo representantes desses setores, será tentar manter as negociações com o governo americano nos próximos dias para tentar a inclusão na lista de exceções. Sem isso, muitos dizem que será necessário um pacote de ajuda do governo, que permita a sobrevivência das empresas, nos moldes do que foi feito durante a pandemia da Covid-19.
Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), diz que a tarifa de Trump pode gerar prejuízo de até US$ 1 bilhão às empresas este ano, já que os EUA são o segundo maior mercado para o Brasil. No caso das carnes, a alíquota será ainda maior do que a de outros produtos.
Hoje, o setor já é taxado em cerca de 36% e terá a incidência de mais 40%. Mesmo antes da definição da taxa, alguns frigoríficos já haviam interrompido a produção voltada aos Estados Unidos.
Apesar da exclusão da carne da lista de exceções divulgada nesta semana, Perosa defende a continuidade das negociações entre os dois países. “Vamos dialogar com o governo federal, com os governos estaduais também e ver o que é possível fazer para amenizar o impacto para o setor da carne bovina brasileira”, disse. “Nós apostamos ainda que haja uma negociação entre os governos, para que possamos retomar o fluxo normal de comércio.”
Segundo ele, neste momento não há mercados capazes de substituir para o setor o norte-americano. “As alternativas seriam distribuir isso ao redor do mundo. Mas não há nenhum mercado com tanta especificação quanto o americano e com a rentabilidade também que o mercado americano dá à carne bovina brasileira. Então, não há um substituto imediato”, disse.
Perosa lembrou que a carne que o Brasil vende aos Estados Unidos é basicamente insumo para fazer hambúrgueres e que os americanos vivem o maior ciclo de baixa na produção pecuária dos últimos 80 anos. “A venda de carne bovina brasileira aos Estados Unidos é uma complementaridade à produção americana”, acrescentou.
Efeitos para o café
Outro dos setores que ficaram de fora da lista de exceções é o do café, uma dos principais itens da pauta exportadora brasileira para os EUA – que são o principal mercado para o produto. Somente nos primeiros seis meses deste ano, os americanos adquiriram 3,3 milhões de sacas de café brasileira – volume 38,7% superior ao segundo maior comprador, a Alemanha (2,4 milhões de sacas).
O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) classificou o momento como difícil e defendeu a necessidade de uma negociação país a país para buscar uma eventual isenção. “Infelizmente, vamos conviver com as tarifas”, disse Marcos Antônio Matos, diretor executivo do Cecafé. “Vamos ver se há alguma esperança em termos de ajustes nesse anexo que foi publicado (com as isenções).”
O dirigente destacou que outros países exportadores de café, como Vietnã, Indonésia, Nicarágua, Colômbia, Peru e Etiópia, têm tarifas muito mais baixas – entre 10% e 20%. Enquanto isso, o Brasil passa a ter carga de 50% sobre o produto, incluindo o café verde, que antes do tarifaço de Trump tinha tarifa zerada para entrar no mercado americano. “O café é importante demais para a economia americana, e eles reconhecem isso. Por isso, seguimos trabalhando para que haja uma isenção ampla, negociada”, afirmou.
Já a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics) demonstrou grande preocupação com a imposição da tarifa de 50% sobre o produto. O diretor de Relações Institucionais da entidade, Aguinaldo Lima, afirmou que o setor já esperava a medida, mas ainda mantinha “uma pontinha de esperança” de que o café pudesse ficar de fora.
Segundo ele, a medida atinge duramente a indústria brasileira de café solúvel, já que os Estados Unidos sempre foram o principal destino do produto nacional – responsável atualmente por 19% das exportações do setor, o equivalente a 18 mil toneladas, ou cerca de 780 mil sacas de café, gerando US$ 180 milhões em receita por ano.
Fonte: Estadão